24.4.10

A ignorância verde, ou...

... O problema é sistêmico.


What you gonna do? Time's caught up with you
Now you wait your turn, you know there's no return
Take your written rules, you join the other fools
Turn to something new, now it's killing you


Mais um post cujo medo de salsinhas é alto, mas enfim, não tem como não discorrer um pouco sobre essa questão tão em voga que é a sustentabilidade e a busca por uma "sociedade melhor". A palavra verde está em moda, tudo agora é verde, vemos ônibus com carburadores desregulados informando que usam combustível verde, sapatos verdes, feito com colas e materiais menos agressivos ao meio ambiente, moda e comidas especiais para os entusiastas, vegans e straight edges, é uma verdadeira inundação de produtos, mas vamos ver isso mais de perto.

Primeiramente quero deixar claro que esse texto é minha opinião sobre o assunto, cabe às pessoas lerem e discutirem a questão, de qualquer forma como diz a frase ali em cima, informação não é nada sem conhecimento, e vamos ao primeiro ponto: "Indústria Cultural" e "Cultura de massas", conceitualizando rapidamente é a produção de bens culturais: filmes, livros, revistas, e "idéias", tudo isso está abarcado nesse conceito, é uma indústria como outra qualquer, visando lucro e gerando bens culturais massificados para o maior número de pessoas possível, basicamente ela filtra o que é criado e o comercializa, caso queiram estudar isso mais a fundo leiam Adorno, e Edgar Morin. Agora vamos falar em "contracultura", outra conceituação complicada, mas diríamos que é a criação de algo que vai de contra com o que é produzido de forma massificada, porém de forma irônica ela é absorvida pela indústria cultural, massificado e vendido para um nicho, ou seja, se algo é passível de ser vendido e gerar lucro, a indústria cultural não liga que a demonizem.

Outra questão é o Histórico humano e sua relação com os recursos naturais, desde períodos antigos o homem busca e modifica a natureza para sobreviver contra as adversidades, isso lhe confere o poder sobre a própria natureza e sobre outros grupos, com a sedentarização e o apuro tecnológico isso se amplia, surgem clãs e busca-se áreas para plantio e com recursos como o ferro para armas e ferramentas, o que era coletivo em áreas de influência pouco a pouco passa a se tornar individual, a terra passa a ter dono principalmente com incipiente comércio e trocas de mercadorias, obviamente quem tinha a terra é quem tinha o poder. Dando saltos milenares, a sociedade hoje é como uma enorme bola de neve de idéias e hábitos cunhados de formas milenares. O sistema capitalista vigente é um apropriador de idéias, ele se utiliza dessas bases seculares cria sistemas de validação das idéias e é uma esponja, ou seja, quando chega a alguma barreira técnica ele se altera para continuar o mesmo.

Aí vem a questão principal, a relação do homem com a natureza que temos hoje é fruto de uma cultura criada desde o início do ser humano, e foi fixada, aprofundada e embasada por linhas de pensamento durante milênios, a utilização e transformação de recursos, o consumo e a propriedade são questões que foram elevadas à enésima potência e está introjetada em nosso ser, o que acontece é que agora tudo isso que nos diferenciou de qualquer outro ser está nos levando a uma barreira enorme, o que eu acho sinceramente ser o maior obstáculo que o ser humano já enfrentou, não temos recursos para o consumo desenfreado de todos os seres humanos no planeta, a questão não é comprar "sapato verde", mas não comprar 50.000 sapatos verdes, mas para manter o sistema é preciso que comprem os 50.000 sapatos. O problema não é a indústria de carne ser malvada, ela é igual e tão filha da puta quanto qualquer outra.

No fim das contas o problema não é a Terra, essa vive seus ciclos e se equilibra, como diz um dos mais citados autores nessa área e sua teoria de gaia, Lovelock, o problema é o ser humano, que está chegando a um empecilho em sua forma de interação com a Terra, só que aí vem pessoas que se orgulham de merda nenhuma, fazem meia dúzia de coisas e se acham superiores a todas as outras, mas não discutem as idéias, não discutem como isso vai terminar e como mudar o rumo de milênios, elas não estão ligadas às linhas de pensamento, mal sabem sobre política, são somente uma massa comprando os novos produtos da moda. Não sei o que o ser humano fará, controle de natalidade e guerra são os caminhos mais comuns quando se chega a empecilhos dessa forma, até porque não sei se o ser humano tem mais capacidade de atravessar barreiras de forma racional, mas de qualquer forma ainda tento acreditar, e ser otimista como um Ilye Prigogine, e agir conforme minha linha de pensamento.

15.4.10

Do pó ao pó, ou...

...golens, homúnculos e robôs na magia tecnocrata.

We stole them from their freedom to be sold
To turn their skins of black into the skins
Of brightest gold
An alchemy, human alchemy


Vários são os mitos para a criação do homem e em muito deles o ser humano foi criado ou esculpido e os deuses lhe inflaram a alma, assim fez Odin e com Ask e Embla na mitologia nórdica, com Prometeu, Atena e Zeus na mitologia Grega, com o Deus moldador judaico/cristão, e com Tupã em mitologias ameríndias.

Outra constante no mundo são as práticas que visam controlar a natureza, práticas como alta magia, alquimia, cabala, entre outras formas de buscar entender a natureza e a comandar a seu bel prazer, um mago é antes de mais nada senhor dos elementos. Aí entra outras questão que podem parecer bestas, mas qual a diferência entre magia e ciência? O que separa uma da outra? Qual a motivação de ambas?

Não vou responder essas perguntas aqui, até porque elas são alvos de pilhas e mais pilhas de pesquisa, mas consigo dizer com clareza que a base e muito da ciência veio das práticas mágicas, e isso não é papo de maluco religioso nível épico, após renascimento grupos iniciáticos e cientistas se confundiam em suas bases e andavam de certa forma juntos, lembremos da alquimia, da astrologia, da alta magia, elas foram o alicerse da química, da astronomia, da física, isso podemos perceber claramente ao estudarmos vida de cientistas como "Galileu Galilei", as idéias não vem do nada, elas ja existem em fragmentos e mesmo que a idéia seja negada ela foi base para um entendimento ou para a criação de um ponto de vista.

E onde difere as escolas iniciáticas da ciência? A diferença é de certa forma (e aqui piso em ovos por não ser especialista) é ligada à epistemologia (que de um modo grosso é a forma que a ciência se estrutura em um campo do saber para gerar o conhecimento), e ao método, a forma de trabalhar sistemáticamente o objeto de estudo do campo. Nessa discussão podemos ir longe, o motivo desse post estranho é pensar o quão a ciência ainda se parece (e tomando as devidas proporções ainda é) magia e aqui me lembro do RPG mago, a ascenção que falava dos tecnocratas, e sua magia tecnológica, O que é uma televisão? O que é um computador? O que é a internet? Aposto que grande parte das pessoas não sabe como metade disso funciona, aliás a eletricidade que os alimenta ja se parece um grande feito mágico.

Mas aí pode-se falar que a explicação para tudo isso está na própria internet, e com uma pequena procurada a pessoa pode encontrar as devidas explicações de funcionamento, porém vem a outra questão que me lembra muito das escolas iniciáticas ocultistas, só consegue entender algo o iniciado nas idéias, aquele que consegue ler e transcrever os termos, ultrapassar a barreira da epistemologia daquela ciência, e também só é dado validade na produção científica a quem dominar os códices e o provar perante os pares.

Com tudo isso me lembrei de uma figura clássica do judaísmo, o chamado Golem, um eco da criação divina imitada pelo homem através da cabala, a lenda mais famosa é do Golem criado no século XVII em Praga para defender os judeus de ataques contra eles, Outra história famosa que me lembrei foi o do Homúnculo, um dos feitos da alquimia, assim como o elixir da vida eterna e o poder de transmutar qualquer ecória em ouro, e penso nos robôs e a busca de uma inteligência artificial através de de nossa atual tecnologia, observando esses três talvez consigamos perceber que os metódos e as formas de pensar podem mudar, mas no fim a mentalidade de ambas continuam na busca do poder sobre a natureza e a criação.

11.4.10

Pensamentos sobre literatura, ou...

...Dream a little dream of me.

Hey you
Out there in the cold
Getting lonely, getting old
Can you feel me?

Uma vez sonhei que havia morrido e estava em forma de espírito assistindo as pessoas em meu próprio funeral, lembro muito bem dessa noite, por algim motivo estava dormindo em um colchão de espuma no quarto dos meus pais, encostado no feio armário branco que eles tinham. Óbviamente acordei chorando e eu devia ter nessa época uns 11, 12 anos, de lá para cá não consigo me lembrar de mais nenhum pesadelo, nem sonhos estranhos recorrentes como estar caindo, ou de estar trancado em alguma sala estranha, entre outras tantas coisas contadas somente em conversas mais profundas, quando nos abrimos e falamos de sentimentos. Penso agora que meu mundo de sonhos e pesadelos eu busquei e vivi acordado dentro de livros, quadrinhos e na tristeza da rotina.

Certo, após meses sumidos abro um post um tanto dramático e sombrio, mas que não deixa de ser verdade, quando bem novo Maurício de Souza me ajudou a ler com a Turma da Mônica, principalmente Chico Bento (meu personagem favorito), passei paulatinamente para os livros, lembro da minha fase de procurar algo para ler nas estantes abarrotadas de livros empoeirados de minha casa, li "cachorrinho samba", "O Caso da Estranha Fotografia" e a minha grande paixão "O Escaravelho do Diabo", nessa época graças ao extinto Círculo do Livro minha família conseguia comprar algumas boas coleções, apesar do pouco dinheiro em uma casa abarrotada de gente, nessa época ganhei toda a coleção do "Manual do Escoteiro Mirim", e depois a coleção da Aghata Christie, e a trilogia "Brumas de Avalon".

Meu primeiro grande livro comprado sozinho e escolhido por mim foi "Senhor dos Anéis", e "A Divina Comédia" versão bilingüe (escrevo com trema e que se foda), com a internet então tudo passou a ficar mais fácil, o que não encontrava para comprar eu baixava, mais tarde ela também me deu a oportunidade de ler quadrinhos que a muito não estavam no mercado, principalmente da linha Vertigo, como Hellblazer, Sandman, US: Tio Sam, Como matar seu namorado, A pró, entre muitos outros, além da oportunidade de encontrar outras pessoas com mesmo interesse, e aqui lembro do amigo John que me emprestava qualquer livro dele sem pestanejar, mesmo sem saber onde eu morava, ou ter meu telefone, e me apresentou vários jogos, filmes e livros como a saga Perry Rhodan (da qual sou apaixonado), lembro que um mês depois ja tinha mais de 100 desses livros comprados em sebos.

Apesar da parência egocêntica do post estava somente refletindo sobre o processo de leitura em minha vida, como busquei e fui conhecendo coisas novas, e como vejo pessoas que disperdiçam a oportunidade de conhecer, de buscar, e dessa forma o que parece difícil é deixado de lado. A arte de certa forma é a expressão de nossos sonhos e pesadelos, por isso quando a realidade nos rasga a carne mostrando seu pior lado é reconfortante saber que posso ter um pouco do sonho de J.R.R. Tolkien, Isaac Asimov, William Gibson, Robert E Howard, H.P. Lovecraft, e muitos outros, pois se meus sonhos não são marcantes, os deixados por eles me bastam.

Esse post é dedicado ao John, viciado mór em livros e ao Abílio Marcondes de Godoy, e Eduardo Spohr, pessoas que vemos lutando para cristalizar seus "sonhos" nesse mundo.